Quadrinhos autobiográficos

Objetivo(s) 
  • Analisar a linguagem da arte sequencial (o arranjo de fotos ou imagens para narrar uma história)
  • Produzir imagens (uma charge, um cartum ou uma história em quadrinhos) inspiradas no momento que está vivendo
Conteúdo(s) 
  • História em quadrinhos
Ano(s) 
Tempo estimado 
2 aulas
Material necessário 

- Revistas e jornais para recortar
- Papel sulfite, papel vegetal e papel canson
- Lápis e canetinhas
- Canetas, aquarela, lápis aquarelável, guache e outros materiais para pintura

Desenvolvimento 
1ª etapa 

Charge de Ziraldo sobre a velhice. Imagem: revista BRAVO! a

Introdução

A série de desenhos "Ensaio sobre a velhice", publicada na edição 183 da revista BRAVO!, nos apresenta as reflexões de Ziraldo, um dos mais importantes artistas brasileiros ligado às artes gráficas, sobre a chegada aos 80 anos. Ele foi o criador da "Turma do Pererê", que marcou época no Brasil do início dos anos 1960, de personagens como a "Super Mãe" e do tão famoso "Menino Maluquinho", livro já adaptado para o teatro, a TV e o cinema.

Ziraldo é reconhecido e premiado internacionalmente e teve alguns trabalhos publicados em revistas norte-americanas e europeias. Foi homenageado mais de uma vez, inclusive como inspiração para o enredo de escolas de samba no Rio de Janeiro e em São Paulo. O contato com sua obra é uma boa oportunidade para ensinar aos alunos o que é a arte sequencial (a união de imagens em sequência para contar uma história), ampliar as informações da turma sobre o universo dos quadrinhos e pedir que produzam desenhos inspirados na na própria figura, como fez  Ziraldo.

Questione a turma: vocês tem o hábito de ler histórias em quadrinhos? Quando leem jornal, procuram as tirinhas? De quais gostam mais? Sabem como se faz uma charge?

Conte que o marco da história dos quadrinhos foi a criação da série norte-americana Yellow Kid, criada por Richard Felton Outcat em 1895. Antes mesmo da publicação desse trabalho, outras iniciativas já despontavam em diferentes localidades, como o personagem "Nhô Quim" criado por Angelo Agostini (1843-1910) no Rio de Janeiro em 1869.

Vale lembrar que os quadrinhos estão na base do desenho animado, além de também terem um estreito diálogo com o universo do cinema.

Os formatos dos quadrinhos são, de modo geral, bem populares. Há basicamente quatro tipos de publicações: os painéis (que podem ocupar uma página inteira ou meia página), as tirinhas (que envolvem um número reduzido de quadros e podem narrar uma piada simples ou uma história), as revistas em quadrinhos e, por último, os álbuns (que trazem uma apresentação mais elaborada e narrativas mais longas).

Há ainda as charges e os cartuns, que encontramos com frequências nos jornais, revistas e redes sociais. Embora ambos envolvam o humor, podemos dizer que o cartum é atemporal e "não sai de moda", ou seja, utiliza elementos que podem ser entendidos em qualquer período e em qualquer lugar. Já a charge é mais crítica e normalmente utiliza elementos específicos de um determinado momento e realidade. Para entender uma charge o leitor precisa ter algum conhecimento a respeito dos personagens e do contexto no qual se inserem. Esse modelo é muito utilizado para criticar questões sociais e políticas. 

2ª etapa 

Aproveite para apresentar aos alunos os trabalhos de outros artistas brasileiros ligados aos quadrinhos. Você pode escolher nomes como Angelo Agostini (1834-1910), J. Carlos (1884-1950) e outros mais populares como Millôr Fernandes (1923-2012), Jaguar (1932 - ), Henfil (1944-1988), Laerte (1951-) ou Angeli (1956 - ), chegando até Ziraldo que neste ano completa 80 anos.

A série publicada na revista BRAVO! mostra como ele traduz essa experiência para os quadrinhos, especialmente para as charges. A partir de sua própria vivência e da observação daqueles que o cercam (como o jornalista e poeta Ferreira Gullar) Ziraldo criou personagens caricaturais e, por meio deles, apresenta diferentes reflexões sobre a vida nessa idade.

Pensar sobre as mudanças que vivemos ao longo do tempo pode ser um bom tema para que os alunos desenvolvam o exercício de criar uma charge, um cartum ou mesmo uma tira. Eles poderão abordar o momento que estão vivendo ou, quem sabe, as transformações da adolescência.

 

 

3ª etapa 

Para inspirar os estudantes, você pode propor uma discussão sobre a letra da música "Metamorfose Ambulante", do cantor e compositor Raul Seixas. A composição foi escrita no início da década de 1970 - durante os anos mais severos da censura - e criticava a facilidade com que as pessoas mantêm a mesma postura, sem refletir sobre o que ocorre ao redor e também dentro de si.

Metamorfose Ambulante
(Raul Seixas)

Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Eu quero dizer
Agora, o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio
Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor
Lhe tenho horror
Lhe faço amor
Eu sou um ator

Eu vou  desdizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo


Vale lembrar que a letra da música é apenas uma sugestão para motivar os alunos. Você pode escolher outra se preferir.

Para a próxima etapa, peça que os estudantes tragam fotografias suas  (principalmente do rosto) impressas. Eles poderão também trazer imagens de outras pessoas para compor seus personagens. E você pode levar revistas e materiais para desenhar como papel sulfite, papel vegetal, papel canson, lápis de cor, aquarela e canetinhas.

4ª etapa 

Retome um pouco da conversa da etapa anterior. Compare a imagem que ilustra este plano (outras estão disponíveis na edição 183 de BRAVO!) com fotos de Ziraldo que podem ser encontradas no site do artista. Peça que os estudantes fiquem atentos para a forma como o desenhista trabalhou a sua imagem e de amigos e diga que eles também criarão personagens inspirados nas próprias fotos ou em rostos retirados de revistas e jornais.

Antes, porém, é fundamental que cada um saiba o que deseja fazer (uma charge, um cartum ou uma história em quadrinhos), quantos quadrinhos vai precisar e o que terá em cada um deles. É preciso desenvolver um roteiro e dividir a sequência de cenas, estipulando qual situação caberá em cada quadro. Lembre que cada momento poderá mostrar diferentes expressões faciais e corporais do personagem.

Peça que os alunos usem o papel vegetal, que é translúcido, para decalcar as principais linhas do rosto e as posições e movimentos do corpo. Destaque que a proposta não é fazer uma representação fotográfica, idêntica ao modelo. A ideia é acentuar alguns traços principais e, no caso das chargens, criar uma imagem mais caricatural.

Os estudantes deverão buscar os aspectos mais marcantes de suas fisionomias (nariz, boca, olhos, cabelo, sorriso e expressões) e explorar estes traços nos desenhos. Para compor os personagens, eles poderão aproveitar partes de outras imagens. É só desenhar no papel vegetal e transpor os traços destacados para outra folha. Para a composição de uma tira, o aluno poderá repetir o processo anterior mais de uma vez e tentar registrar as expressões indicadas no roteiro para cada quadrinho. Em seguida, as imagens devem ser transferidas para um papel canson e, logo após, aperfeiçoadas com outros materiais, utilizando cores ou não.

Um modo mais "limpo" do que o papel carbono para transpor os traços do papel vegetal para a folha de papel canson é virar a folha de papel vegetal e desenhar no verso sobre as linhas e traços anteriormente produzidos. Depois é só revirar a folha, posicioná-la sobre o canson e desenhar mais uma vez. É um pouco trabalhoso, mas é um ótimo treinamento para a firmeza dos traços dos alunos. Entre os profissionais utiliza-se uma mesa de luz, caso a escola disponha de uma esta é uma ótima oportunidade para utilizá-la!

Se tiverem equipamentos e softwares disponíveis, as imagens fotográficas, sejam produzidas pelos próprios alunos ou extraídas da internet, poderão ser manipuladas por computador. Deste modo todas as etapas anteriormente descritas ficam mais fáceis. 

5ª etapa 

Ao término do exercício, os alunos poderão reunir os trabalhos e apresentá-los à turma. Se possível, elabore uma mostra de quadrinhos na escola. Essa linguagem é muito conhecida pelas crianças e adolescentes e, portanto, pode constituir um excelente canal de comunicação na sua comunidade.

Avaliação 

Ao longo das etapas, observe se os estudantes aprenderam mais sobre a arte sequencial e se conseguem identificar suas formas mais convencionais (cartum, charge e história em quadrinhos). Analise também se os adolescentes conseguiram, ao final da sequência didática, produzir um trabalho final inspirado na própria vida.

 


Contato

Adriana Vieira

arts_adriana@hotmail.com

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