Gravura e xilogravura

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Objetivo(s) 
  • Conhecer e analisar a linguagem da gravura e suas aplicações na arte e na comunicação
  • Apreciar o objeto estético em suas diversas linguagens
  • Utilizar-se da gravura como meio de expressão, comunicação e informação
Conteúdo(s) 
  • A linguagem da gravura
  • Goeldi e a arte modernista
Ano(s) 
Tempo estimado 
4 aulas
Material necessário 
  • Cópias da reportagem "Beco sem saída" (Bravo!, edição 178, junho de 2012)
  • Computadores com acesso à internet

Revista BRAVO! - Ed. 178 Plano de aula relacionado à edição 178 de BRAVO!

Desenvolvimento 
1ª etapa 

Introdução à gravura 
Bravo! deste mês nos coloca em contato com obras de um dos maiores nomes da gravura moderna no Brasil: Oswaldo Goeldi. Gravador e desenhista que nasceu no Rio de Janeiro e cresceu no Brasil e na Suíça, onde estudou engenharia e artes. Este era o país de seu pai, o zoólogo e naturalista Emílio Goeldi.

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Por volta dos 24 anos, Goeldi retornou ao Rio de Janeiro e passou a se dedicar à xilogravura. Além de artista, foi também professor da Escola Nacional de Belas Artes; participou de importantes exposições nacionais e internacionais como a Bienal de São Paulo e a Bienal de Veneza. Como ilustrador de textos literários teve seus trabalhos publicados junto aos de grandes escritores brasileiros e estrangeiros como Graça Aranha, Cassiano Ricardo e Dostoievski.

Para conhecer mais a respeito, sugira à turma uma visita ao site do Projeto Goeldi e do Centro Virtual Goeldi. Além de ser uma ótima oportunidade para colocar os alunos em contato com a obra do artista é também um bom momento para lhes apresentar o universo da gravura do qual trataremos nesta sequência.

Lembre que a gravura é uma das linguagens mais antigas da história da humanidade. Suas origens remetem à Pré-história, quando o homem pressionou as mãos sujas de terra ou de sangue contra as paredes das cavernas, registrando assim a marca da sua individualidade na superfície da pedra.

Na Mesopotâmia, os sumérios desenvolveram um procedimento bastante interessante chamado escrita cuneiforme. Escreviam em baixos relevos em cilindros de barro ou de pedra que depois eram rolados sobre uma outra superfície, como barro, deixando impressas as informações neles contidas. Gradativamente ao lado da descoberta e do desenvolvimento de novos materiais, os processos se tornaram mais elaborados e ao longo dos séculos a linguagem da gravura ganhou destaque tanto no universo artístico quanto no das artes gráficas.

Explique para a turma que a gravura envolve dois conceitos básicos: a gravação e a impressão. A gravação é o processo de marcar uma superfície. Gravar vem do grego graphein, que significa ação de escrever ou desenhar e do latim, cavare, que significa escavar, aprofundar, abrir. A impressão é a transferência das marcas criadas nessa superfície para um suporte (papel, tecido, plástico, parede etc), por meio da pressão.

Conte para a turma que a matriz é o  material de passagem ou talhado que se poderá entintar (ou não) e que permite passar a imagem criada para o papel, mediante a sua impressão ou estampa em um determinado número de vezes (uma ou mais).
Explique que embora um ourives possa gravar uma aliança, por exemplo, ele não estará criando uma matriz, pois, a sua intenção não é a de criar uma gravação que será reproduzida em outro suporte.

Quando pintamos, desenhamos ou esculpimos realizamos uma obra única. O interessante da gravura é a possibilidade que ela oferece de ser multiplicada, ou seja, podemos obter cópias a partir de um único exemplar. O processo de impressão pode se dar com tinta ou sem tinta (a seco, explorando apenas os relevos da superfície).

No universo da gravura com tinta, podemos contar com quatro tipos básicos de impressão. Cada um deles está ligado ao tipo de matriz utilizada.Por exemplo, existem as impressões em relevo - quando escavamos uma placa e a imagem obtida é extraída das partes altas da matriz. Um exemplo bem simples desse tipo de matriz é o carimbo: ele possui relevos que são entintados quando o pressionamos contra a carimbeira com tinta. Em seguida o carimbo é pressionado contra o papel e a imagem resultante sai dos relevos.

As impressões a entalhe são obtidas a partir de um outro tipo de matriz. Nesse caso a tinta fica depositada nas partes escavadas, fundas da matriz e só sai dali quando a matriz é colocada sob o papel e juntos são submetidos a uma pressão muito grande (em geral se realiza essa impressão em prensas profissionais). É o caso das gravuras realizadas a partir de placas de metal (calcogravura), com técnicas específicas como a água forte, a água tinta, o buril, a ponta seca, a maneira negra, etc.

Há também impressões realizadas a partir de matrizes que não contém sulcos como é o caso das matrizes planas (como as da litografia, realizadas com matrizes de pedra) e as matrizes por permeação. Essas últimas são muito utilizadas para a estamparia, impressão de imagens em camisetas, bonés etc - é o caso da serigrafia, mais conhecida como silk screen e que também foi amplamente usada como linguagem artística principalmente pelos artistas da Pop Art como Andy Warhol, Roy Lichtenstein e outros.

As matrizes de permeação são vazadas, possuem áreas fechadas e áreas abertas por onde passa a tinta. Muitos artistas de rua utilizam esse tipo de técnica, criando moldes vazados, também chamados de stencil. Alguns artistas famosos usaram este modelo, entre eles os brasileiros Alex Vallauri, Hudinilson Jr. e Alexandre Órion, entre outros (para visitar: Stencil Art).

Oswado Goeldi destacou-se no uso da técnica da xilogravura. A xilogravura (xilo, para os íntimos) se baseia no uso de matrizes em relevo executadas em madeira com o auxílio de instrumentos cortantes os quais denominamos goivas, facas, formões e buris. Depois de pronta a matriz, com o auxílio de um rolo de borracha aplica-se tinta nas partes altas da gravação. O suporte que receberá a imagem é posicionado sobre essa área entintada e então ele é pressionado contra a matriz manualmente (esfregando-se delicadamente uma colher de pau, por exemplo) ou com o auxílio de uma prensa. É importante observar que a imagem resultante será invertida em relação àquela que foi gravada (como em um espelho).

Trata-se de uma técnica ancestral que tem suas bases no extremo Oriente, séculos antes de Cristo. Acredita-se que no princípio era utilizada para a impressão em tecidos. A técnica chegou à Europa na Idade Média, sendo amplamente empregada para ilustrações e impressão de cartas de baralho.

No século XV o alemão Johann Gutenberg de Mainz teve a ideia de criar pequenas matrizes de madeira com letras e com elas compor palavras, que entintadas poderiam ser impressas formando textos. Explique ao grupo que isso significou uma revolução, pois, até aquele momento a produção de livros exigia que se fizessem cópias à mão e Gutenberg acabara de criar as bases da imprensa. Por volta de 1454, Gutenberg consegue terminar a impressão da primeira Bíblia.

Aos poucos as casas impressoras se multiplicaram na Alemanha e depois na Europa. As técnicas de gravação e impressão se tornaram cada vez mais elaboradas, surgindo excelentes artistas quanto ao domínio dos materiais e das práticas de gravação. Entre eles podemos destacar nomes como os de Albrecht Dürer, Giovanni-Battista Piranesi e outros que dominaram a gravura com matriz de madeira e metal.

É importante que a turma compreenda como a gravura se tornou importante para a difusão das informações. Em uma época sem televisão, rádio e muito menos internet, a gravura era uma maneira prática e rápida de multiplicar uma mesma imagem ou um texto e transportá-los de um lado a outro do mundo.  Desse modo, muitos modelos de obras chegaram ao Brasil durante o Período Colonial.

Posteriormente (entre o final do século 18 e início do século 19) surgiram as matrizes feitas em pedra, quando criaram a litografia. Essa técnica permitia a realização de muitas cópias a partir de uma mesma matriz e por isso foi bastante utilizada na impressão de materiais gráficos até o século 20, quando foi inventada a técnica de off set (utilizada para a impressão de livros, revistas, jornais etc). Gradativamente as técnicas mais tradicionais como as da gravura em metal e a xilogravura, deixaram o patamar de simples métodos de reprodução de imagens e textos para as novas técnicas de reprodução industrial, passando a ocupar um lugar de destaque entre as linguagens artísticas.

Esse é um bom momento para propor aos alunos um exercício introdutório à linguagem da gravura e às obras de alguns de seus mais importantes nomes. Explique que um dos elementos visuais mais explorados na gravura é a textura visual. Apresente diferentes exemplos  e artistas como Livio Abramo, Lasar Segall, Maria Bonomi, Marcelo Grassman, Evandro Carlos Jardim, Rubem Grillo e outros e mostre a importância da exploração da linha para a construção de texturas gráficas. Peça para que na próxima aula os alunos  levem papéis, giz de cera e lápis ou canetas esferográficas.

2ª etapa 

Aquecendo os motores
Esta aula será dedicada ao estudo das texturas e sua representação gráfica. Apresente uma breve introdução sobre o que são texturas. Diga que se dividem basicamente em visuais (as que percebemos somente olhando) e táteis (as que conseguimos perceber também tocando). Há diversas maneiras de produzir texturas visuais: por meio de fricção (frottage), desenhando, pintando e até mesmo fotografando.

Como exercício peça que façam um mostruário de frottages, ou seja, eles devem colocar uma folha de papel sobre uma textura tátil e esfregar sobre ela um lápis ou giz de cera, extraindo assim um decalque da superfície. Peça para que façam isso a partir de pelo menos 10 diferentes superfícies relativamente duras: plástico polionda (pastas), solado de calçados (principalmente tênis), cascas de árvores, pedras, madeira envelhecida, moedas, paredes etc.

A partir das amostras coletadas os alunos deverão realizar uma minuciosa representação gráfica daquilo que coletaram, ou seja, eles transformarão as manchas obtidas pela fricção do grafite ou do giz de cera sobre o papel em linhas e pontos, como em um desenho.Esse é apenas um "aquecimento" para a experimentação em isogravura, uma técnica de gravura alternativa que utiliza o isopor como matriz.Mas para tanto será necessário criar a as matrizes. Vocês poderão trabalhar com temas livres ou ainda criar um trabalho coletivo, como a reinterpretação de uma história. Peça para que para a próxima aula pesquisem e tragam sugestões de histórias curtas. Pode ser um conto de fadas, uma lenda, ou um conto, que queiram ilustrar.

3ª etapa 

Criando o roteiro e as imagens
Reserve o começo da aula para que a turma escolha a história que deseja trabalhar. Deixe que os alunos apresentem suas propostas e façam uma votação para a escolha do tema. A partir dele, divida a história em partes de modo que cada grupo se responsabilize por uma delas. A tarefa agora é recontar à sua própria maneira (vocês poderão contar com a colaboração do professor de Língua Portuguesa). Explique à turma que eles poderão subverter a história, alterar o caráter dos personagens etc. O importante é que elaborem um roteiro dividido em cenas e que a história tenha continuidade de um grupo para o outro.

Definido o roteiro, os grupos deverão transformar o roteiro em imagens, ou seja, cada cena será transformada em uma gravura, formando uma sequencia de no mínimo 5 imagens. A tarefa agora é criar as imagens que servirão de base para a elaboração das matrizes. Lembre que gravura e textura podem manter uma relação muito próxima. Retome algumas imagens de gravuras e peça para que retomem também os exercícios gráficos realizados na aula anterior. Isso será muito importante para a elaboração das matrizes de modo que elas se tornem imagens interessantes e instigantes.

Lembre aos alunos que como estarão trabalhando com uma técnica de gravação em relevo, na gravura final tudo o que for linha ficará em branco e todo o restante ficará com tinta.Para a próxima aula peça aos alunos que levem seus desenhos, papel de seda, bandejas de isopor limpas (dessas utilizadas em supermercados para legumes), tinta guache, rolinho de espuma pequeno (como os utilizados para pintar paredes) e papeis.

4ª etapa 

Preparando as matrizes e imprimindo
O preparo da matriz é um momento bastante importante. Para facilitar a impressão, corte o fundo das bandejas de isopor com um estilete, deixando apenas o fundo plano e descartando as laterais.

As imagens criadas devem  ser transferidas para as bandejas, mas é importante que eles entendam que deverão fazê-lo pelo verso da imagem,  porque assim como em um carimbo, se colocarmos a imagem na posição correta, ao ser impressa, obteremos o resultado invertido (este detalhe é especialmente importante para os casos em que também utilizarem palavras). Por isso uma boa maneira para resolver o problema é transferir a imagem a ser gravada para um papel translúcido (vegetal ou de seda), de modo que ao transportar a imagem para o isopor se possa fazer isso pelo avesso da folha. Para facilitar o trabalho vocês poderão usar também um papel carbono.

Resolvida a transposição da imagem, é hora de aprofundar os sulcos o que poderá ser feito utilizando a ponta de uma caneta esferográfica, lembrando mais um vez, que os sulcos ficarão em branco, pois a tinta se depositará nas partes altas da matriz.

Com a matriz solucionada passaremos à impressão. Antes disso é preciso preparar os registros.Denominamos registro a um tipo de gabarito, uma guia para saber em que lugar será colocada a matriz para determinar qual será a posição da imagem na folha. Essa é uma etapa muito importante, pois, na gravura é fundamental que todas as cópias sejam posicionadas do mesmo modo sobre o papel e que  saiam iguais.Para fazer o registro é simples, basta ter uma folha de papel igual ou maior do que o papel no qual será impressa a imagem e nela se deve posicionar a matriz de modo a poder marcar a posição exata que a gravura ocupará na folha de papel (no caso de esta ser menor que a folha do registro).

Oriente-os para que fixem essa folha sobre a carteira utilizando fita adesiva, isso evitará que o registro se movimente durante a impressão. Para imprimir, basta aplicar a tinta (pode ser guache sem a adição de água) com o auxílio do rolinho na superfície da matriz de isopor, já gravada. Explique que é importante que essa entintagem seja uniforme em toda a superfície, porém sem excessos. É importante que haja tinta somente na superfície gravada e não nas laterais ou mesmo em baixo da mariz. Gravura é algo que exige limpeza, por isso é importante tomar bastante cuidado inclusive não tocar o papel com as mãos sujas de tinta.

Agora a tarefa é posicionar cuidadosamente a matriz sobre o registro, cuidando para que a parte entintada fique para cima. Em seguida oriente-os para que coloquem o papel no qual a imagem será impressa sobre a matriz, a partir de uma das laterais, abaixando a folha lentamente até que esteja uniformemente distribuída sobre a superfície, sempre obedecendo a marcação feita no registro. Indique para que pressionem a lateral da mão sobre o papel, de modo que ela escorregue suavemente sobre o papel que se encontra sobre a superfície da matriz, partindo do lado fixo para os lados soltos. Depois disso pode-se levantar a folha cuidadosamente a partir de um dos lados, segurando sempre pelas pontas (que não receberam tinta) e colocá-la para secar com a estampa voltada para cima.
Feito isso é possível avaliar o estado da imagem, como foi a impressão, se é necessário realizar alguma alteração na matriz etc.

Explique para os alunos que por ser um múltiplo (permite realizar várias cópias) é uma convenção numerar todas as cópias (chamamos de provas) da impressão. Se forem realizadas 5 cópias, todas idênticas, numera-se 1/5, 2/5, 3/5 e daí em diante. Ou seja foram realizadas 5 impressões daquela matriz e essa prova é a de número "x".
Essa numeração é sempre colocada a lápis logo abaixo da imagem impressa, no canto esquerdo. No canto inferior da imagem, do lado direito coloca-se a assinatura do artista e no meio, o título da obra.

Realizadas todas as impressões será possível compor a história, o que poderá ser feito em sala de aula, mas vocês poderão ir além, realizando uma exposição dos trabalhos na escola, mostrando a sua nova maneira de contar uma narrativa. Por meio deste exercício os alunos poderão ter contato prático com os elementos básicos da linguagem visual (o ponto, a linha, a forma, a textura) além de conhecer a linguagem da gravura e seu potencial expressivo, criativo, comunicacional e multiplicador. Vocês poderão ampliar seus estudos a respeito da gravura direcionando-o ainda à arte popular, estudando, por exemplo, a Literatura de Cordel, um tipo de publicação realizada desde a Idade Média e que se vale tradicionalmente da xilogravura. Em um desdobramento do projeto realizado vocês poderão contar com a colaboração do professor de Língua Portuguesa para criar um cordel a partir das gravuras realizadas pela classe.

Avaliação 

Com a ilustração da narrativa, é possível observar o que a turma aprendeu sobre a linguagem da gravura e suas aplicações. No decorrer das aulas, os alunos serão apresentados à gravura como forma de expressão de artistas importantes, como Osvaldo Goeldi. Entender que é possível produzir uma obra de arte nesta linguagem é fundamental. Fique atendo a isso quando avaliar o trabalho dos alunos.

 

 


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Adriana Vieira

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